segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Aki & Shin




"He always brought me back to the light when I was lost in darkness. Whenever he walked me home, I would see him off and think "Please let Shin return home safely." (even though it's only 90 meters to his house). I called him seeking comfort."




domingo, 9 de dezembro de 2012

Às vezes

Quero tomar toda essa sua dor para mim. Quero-a com ânsia e urgência. Preciso tomá-la, apaixonada e ardentemente. Tomá-la inteira até que, dela, nada mais reste.
Quero suprimir toda essa sua solidão. Quero me atirar em cada esquina sua. Me quero marcada a ferro na sua pele. Quero o meu desespero se encontrando com o seu desespero. Quero a minha tristeza consolando a sua tristeza. 

Não quero que se sinta só do mesmo modo que me sinto g r i t a n t e m e n t e só com todo esse amor dentro de mim.



"Se ela murmura em meio ao sono - e ela dorme o tempo todo por causa dos remédios - é como se dissesse uma verdade escondida, que não se pode negar. Mas é sempre verdade, e não apenas quando dorme: talvez ela esteja morrendo. Eu ponho meu ouvido perto do seu hálito, com medo. Não quero ouvir uma queixa, não quero ouvir outro nome. Não quero que se lembre do que não viveu comigo. Cumpro o que me pedem: horários, remédio, e fico batendo, como um morcego, as asas nas vidraças: pedaços de frase, rancores antigos, um ritmo sem conteúdo, uma pergunta cretina. Acordo para olhar: respira? Dorme com as mãos estendidas e as plantas do quarto crescem até junto delas. À noite vêm umedecer a ponta dos seus dedos magros. Está plena na magreza, definha como uma santa, os ecos da madrugada conseguem entrar no meu quarto e perguntam. Entram em silêncio, depois perguntam: o que você fez por ela? Eu fiz o que podia. Quanto é isso? Fiz tudo o que podia."




Minha Fantasma, Nuno Ramos.


quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Te escuto mas não te sinto.
Te escuto e me sinto.



São, acima de tudo, os seus olhos. Os seus olhos entorpecidos que transbordam, consciente e inconscientemente, cansaço. Cansaço de tudo, de todos. Cansaço de não conseguir ver um sentido à sua frente, aquele sentido frágil e suscetível a um "Já não basta", mas que se agarra lá no fundo do âmago e nos impulsiona diariamente. Cansaço do estado de inércia em que se encontra. Cansaço de você. Cansaço da rotina agoniante que te envolve, te definha e te consome dia após dia. Cansaço de mim.
São os seus olhos denunciantes. É você em estado de iminência: prestes a sucumbir e a desistir.
São os seus olhos sem esperança, entregues, que pedem descanso e alívio em meio a tanto caos e barulho (internos e externos).
São os seus olhos fundos que me puxam. E eu vou: mergulho, com medo e hesitação, mas mergulho. Me perco nesse par de pequenos oceanos cotidianamente. Por vezes me falta ar e sinto vontade de desistir e voltar à superfície. Confesso: às vezes volto, mas logo sou levada pela maré alta e intensa da sua tristeza e por ela sou conduzida. É sempre assim. 
E me encontro envolvida em sua laguna interior que parece aumentar um tantinho a cada dia. Me encontro no imensurável e rotineiro desespero, que é tanto meu quanto seu, que parece ser uma extensão de nós dois. Esse desespero que reflete nos seus olhos para refletir nos meus. E vice versa. 
Esse desespero pulsante, que não me deixa desistir: de você, de mim. Que me faz querer ir até o fundo, até o seu âmago, até o limite. Se é que existe um limite. Porque não basta e nunca vai bastar.
Eu não basto.
Você não basta.

"Ai de nós!, que vamos perdendo a capacidade de apreciar a sutileza das coisas, que nos vamos tornando pouco a pouco bárbaros, por uma vasta dispersão no complexo mundo que nos cerca. Mal sabemos parar e refletir. Mal sabemos ver. As pequenas coisas não nos revelam mais os seus doces segredos? Ou os nossos ouvidos endureceram para a sua misteriosa voz?"

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Seja Você




"Eu não te completo
Você não me basta
Mas é lindo o gesto de se oferecer"

sábado, 27 de outubro de 2012

Distância (s.f): 

1. Intervalo entre dois pontos, dois lugares, dois objetos. 
2. Grande diferença. 
3. Afastamento. 
4. Posição de pouco ou menor envolvimento emocional ou afetivo. 
5. Período de tempo que medeia entre dois fatos, duas ocasiões ou épocas. 
6. Diferença entre categorias sociais.

Trama


"Um dia, eu já tinha bastante idade, no saguão de um lugar público, um homem se aproximou de mim. Apresentou-se e disse: "Eu a conheço desde sempre. Todo mundo diz que você era bonita quando jovem; venho lhe dizer que, por mim, eu a acho agora ainda mais bonita do que quando jovem; gostava menos do seu rosto de moça do que do rosto que você tem agora, devastado."


"A luz das velas insinua-se com muita suavidade pelo desenho dos lábios, pela curva das narinas, passa pelas pestanas, fio a fio, para, enfim, descansar nos olhos, pequenos mares convexos, líquidos e móveis como se fossem mesmo um aglomerado de lágrimas."

Sujeito Novo

"A arte cria uma espécie de mundo paralelo. E o legal é que o mundo paralelo vem desse mundo, do real, e isso é algo que as pessoas esquecem um pouco: que arte é o sonho da vida. A vida quis os artistas, por mais que os odeie. Arte é uma coisa que a gente bola, mas que tem que voltar de onde saiu. Arte é uma espécie de desejo coletivo que alguém faz, traindo, às vezes, até a sua origem. Arte em geral é uma vida paralela, que tem que voltar para a vida que a gerou, que a sonhou. A gente sonha para retornar para cá."


Nuno Ramos.
"A pele é de uma suavidade suntuosa. O corpo. O corpo é magro, sem força, sem músculos, podia ser de um doente, de um convalescente, ele é imberbe, sem virilidade a não ser do sexo, é muito frágil, parece estar à mercê de um insulto, sofrendo."
"A natureza humana, prossegui, depois de breve pausa, tem seus limites; pode suportar até certo ponto a alegria, a mágoa, a dor, mas passando deste ponto ela sucumbe. A questão não é, pois, saber se um homem é fraco ou forte, mas se pode suportar o peso dos seus sofrimentos, quer morais, quer físicos. E eu acho tão espantoso que se chame de covarde ou de desgraçado àquele que se priva da vida, como acharia impertinente tachar de covarde ao que sucumbe a uma febre maligna."



"Quero saltar à água para cair no céu."
“Minha fantasma”, em Ensaio Geral, trata-se de um curto relato do artista plástico Nuno Ramos sobre os seis meses de uma crise de depressão severa da esposa, suas idas aos médicos, os cuidados, os horários de remédios, o cansaço e a impotência. É um texto lindo sobre “um amor imenso e cansativo, que deve dizer bem alto: eu quero você mesmo assim. Ou algo ainda antes disso, já que ela é a mesma pessoa, apenas confusa, como quem circula pela casa sem encontrar a porta do próprio quarto”

 Toda vez que leio esse texto de Nuno, penso em como deve ter sido, para ela, ter alguém tão constante, tão certo, tão leal, alguém que desconfiou de um determinado médico “não pelos motivos habituais (pêlos atrás da orelha, voz melíflua, olhar excessivamente demorado, roçar de uma palma da mão na outra). Achei, apenas, que não gostava dela”. 

 Um médico que, segundo ele, parecia ser alguém que tocava violino, como um judeu de Chagall. “Devia ter uma coleção enorme de selos e uma mãe severa. Devia raspar um prato fundo de caldo de carne com a gema de um ovo batido todas as manhãs, pra ficar bem forte. Mas na verdade é baixo e atarracado e suas pernas não se desenvolveram tanto quanto o tórax, e o próprio tórax não se desenvolveu tanto quanto as feições elásticas do seu rosto — por isso não pode esconder certa fração de paraplegia, de paralisia infantil, certa dessemelhança entre a metade de baixo e a metade superior do tronco, como um Tratado das Tordesilhas cravado em sua cintura que torna apenas mais perverso seu sorriso forçosamente bondoso.” 

 Não sei por quê, mas acho essa passagem do médico particularmente tocante — há uma solidariedade muda que perpassa o texto inteiro, preenchendo inclusive as lacunas do vazio. Por vezes, o autor hesita diante de tanto sofrimento e é arrastado pela maré da tristeza dela, mas continua ao seu lado dia após dia, enquanto ela chora e chora, “chora por ser covarde, chora principalmente porque não pode parar de chorar. Não há ventos fortes nem tufões, mas uma monotonia de laguna excessivamente salgada onde os peixes não conseguem sobreviver”, conta. “A cura não é o raio de sol depois da tempestade, nem uma lufada de ar no quarto pestilento, mas haver o quarto, e sol como o conhecemos, e vento como desde que somos pequenos. É o mundo ser redondo e o oceano ser salgado. Isso é a cura, o tédio bem-vindo. Então é isso que ela ataca e protela, voltando a alto-mar enquanto lhe acenamos da praia monótona.” 

 A certa altura, não estamos mais falando de depressão, mas de amor."


Vanessa Barbara.
"Ele a olha. Com os olhos fechados ainda a olha. Respira seu rosto. Respira a criança, com os olhos fechados respira sua respiração, o ar quente que sai dela. Ele percebe cada vez menos claramente os limites desse corpo, que não é como os outros, ele não acaba, no quarto continua a crescer, as formas ainda não se detiveram, a todo momento estão se fazendo, ele não está ali apenas onde se vê, está em outro lugar também, se estende além da vista, para o jogo, para a morte, ele é maleável, parte-se inteiro no gozo como se fosse grande, adulto, sem malícia, com uma inteligência assustadora.
Eu olhava o que ele fazia comigo, como se servia de mim, e nunca tinha pensado que se podia fazer assim, ele ia além da minha esperança e em consonância com o destino do meu corpo."
"Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.

uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte
linguagem.

traduzir uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?"


Traduzir-se, Ferreira Gullar.

sábado, 29 de setembro de 2012

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

"Eu te conheço, e conheço teus erros, sei todo o bem que vive e brilha em ti!"

"O Brasil no ar"



  "Sempre muito tristes as noites de São João de Guignard. O que se festeja, afinal, em meio a espaços tão vastos, que nos retiram o fôlego e a escala?

(...) Essa natureza tem cismas, pudores. Envergonham-na os extravasamentos, as manifestações cabais. O que lhe agrada é essa sedimentação lenta e continuada, a manter tudo em suspensão - um mundo de névoas, sem solo ou pontos de apoio firmes.


  Vem daí a impressão de imensidão que perpassa boa parte das paisagens de Guignard. Pois como encontrar dimensões num território tão imaterial, que parece pairar além das definições, e que agora é profundidade, instantes depois torna-se puro véu, para logo após transformar-se numa garoa fina, que dilui a consistência das coisas? Por isso a espacialidade de Guignard não tem nada de sublime, daquela natureza imponente que se desdobrava a perder de vista nas telas de Caspar David Friedrich, fazendo da amplidão um indicador de sua potência.

  (...) Essa impressão de uma imensidade relutante deriva também da relação que seu espaço estabelece com as coisas, sobretudo com a acidentada topografia das paisagens.

  (...) Não há nela uma volta à profundidade ilusionista, à perspectiva e suas exigências, embora suas situações sejam muito singulares. Não é para o fundo que nos puxa a pintura de Guignard. O que se impõe são essas espessuras incertas, uma espécie de respiração contida que nos envolve em seu moroso vaivém. E como essa cadência permanece irresolvida, resta correr os quadros de alto a baixo, na esperança de encontrar um apoio que possa sustentar formas mais estáveis, que deem direção e alguma ordem às obras. Em vão.


  (...) Apenas algumas pequenas figuras - balões, igrejinhas, palmeiras, homenzinhos, bandeiras - adquirem uma presença mais plena, que as pequenas dimensões reduzem a uma função puramente rítmica. Por detrás delas o mundo continua sua ruminação pachorrenta, indiferente à pontuação que elas lhes sobrepõem.

  (...) Em vez de articular espaços e figuras, Guignard tende a enfraquecer seus limites. No caso das montanhas, chega mesmo a dissolvê-las. O espaço se instila nos seres, retirando quase toda sua solidez. O aspecto lavado dos quadros decorre dessa infiltração lenta, e o mundo parece prestes a escorrer, como se o víssemos através de uma janela molhada. Convertida numa substância homogênea, a realidade se condensa aqui e ali em massas mais claras ou mais escuras, numa dinâmica singela e aquosa.
  Assim, aquilo que era apenas uma paisagem torna-se uma figuração de toda a natureza, com sua matéria primeira e seus movimentos de morosa diferenciação. Ao mesmo tempo essa natureza revela uma potência tímida.
  De algum modo ela parece fadada a uma existência atmosférica, avessa a momentos mais marcados. Desse modo, a natureza de Guignard também mostrará uma outra face: quase nenhuma predisposição para as ações que a retirem de seu repouso, dando-lhe forma e utilidade. Afinal, como envolver um meio tão lábil e propiciar-lhe um recorte?

  (...) Já que ela praticamente não admite sobre si atividades duras e transformadoras, por certo irá recusar toda a sociabilidade baseada em relações produtivas. Essas paisagens difusas e desabitadas pedem uma coletividade que mal arranhe suas superfícies; pedem intercâmbios amenos, tanto entre elas e seus eventuais habitantes quanto os próprios homens: algum extrativismo, caça, pesca etc. Aquilo que no Cubismo era mediação, aqui é proximidade. O mundo do trabalho e suas trocas não atraem a atenção de Guignard. Não por acaso seus quadros têm algo de primitivo - todas as formas mais fortes lhe desagradam.




  (...) Seu mundo tristonho, pulmonar, vive às voltas com uma luz interna, meio neoplatônica, que às vezes ameaça querer presidir todo o movimento dos seres, transubstanciando-os. Essa luz que ilumina de dentro a realidade enevoada de sua pintura traduz uma espiritualidade acanhada, que percebe laivos de vaidade no impulso de se afirmar, e portanto se recolhe, deixando a prova de sua hesitação nessa claridade turva, entre espírito e matéria.

  (...) As imagens que nos chegam são uma versão esmaecida de uma essência mais plena, de que a manifestação sensível não pode dar conta.

  A natureza que ele meio idealiza - e que surge no horizonte como uma esperança, como vislumbre de uma potência não violenta - se deixa entrever apenas em seu ocultamento. Tudo o que revela desagrada. Por ora está tudo em suspenso. Sabe Deus até quando."


Fragmentos de um ensaio lindo e sensível sobre Alberto de Veiga Guignard escrito por Rodrigo Naves.




quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Patinação

  "O admirável não é apenas que as roupas sejam tão belas, que os movimentos se desenvolvam com tanta harmonia: o admirável, principalmente, é que tudo isso deslize sobre patins. As figuras vêm de longe, velozmente, mas numa velocidade suave, silenciosa e feliz. Devíamos andar assim no mundo. Nossos trajetos deviam cruzar-se desse modo: sem choques nem pausas, com um desenho de cortesias que se entrelaçam delicadamente. E vem a ser justamente a mais adequada ao conjunto, como se a submissão à lei não lhe diminuísse o valor próprio mas, ao contrário, o salientasse e lhe revelasse imprevistos aspectos.
  Alguma coisa fugidia, apaixonada de distância e mistério existe no nosso coração, pela delícia que nos causam os movimentos dos patinadores retirando-se implacável e sutilmente, como um som que gradativamente se apaga, uma estrela que, inexorável, desaparece. Os patinadores vão sendo levados, num tempo mais profundo que o do seu bailado, absorvidos pelo ímã do horizonte, inalcançáveis e íntegros como deuses.
  Alguma coisa também deve existir em nós atraída pela resposta do eco, ansiosa de repercussões e espelhos, para nos encantarmos com os patinadores que se acercam e reconhecem e combinam seus abraços com esse perfeito ritmo em que confundem e recuperam sua unidade, aproximando-se e separando-se, livres e prisioneiros, deixando que se cumpra com rigor e graça a parábola de seus encontros e desencontros.
  Pensa-se que isto é uma distração frívola, e está-se diante da verdade do mundo, iluminado de outro modo, com algumas pessoas interpretando esta vida de cada dia, apenas alegoricamente.
  Alguma coisa deve existir em nós que se recusa a andar levitando entre as douradas estrelas: que ainda não se desprendeu totalmente da selva, da burla, do árido ensinamento do chão. Porque deste modo nos regozijamos com as presenças grotescas, e as formas inseguras, e o medo e o risco, a aventura talvez inábil do gesto incerto... Pode ser que não sejamos sempre desmesuradamente líricos: um prosaísmo pesado, espesso, talvez compense em banalidades rasteiras o ímpeto com que, outras vezes, nos atiramos a altas e inquietantes expedições...
  Mas é tudo sobre patins, num abrir e fechar de olhos, sem que mais nada nos detenha, porque já partimos, seguimos, continuamos, estamos sendo levados, pela nossa vontade e pela fatalidade deste escorregar por uma superfície gelada.
  Alguma coisa em nós deseja a solidão, a companhia da própria sombra, apenas, para assim nos emocionarmos com o dançarino isolado que se debruça para o seu reflexo, que em si mesmo se encontra, seus pés unidos perpendicularmente a seus pés, e assim vai, e volta, e não volta, fazendo o seu caminho no vazio, inventando um itinerário e uma direção.
  Mas alguma coisa nos atrai para o convívio e o colóquio, pois assim nos alegramos com a multidão festiva que se reúne e desdobra numa infinita coreografia, toda cintilante e entusiástica, depois de tantas provas acrobáticas, de tantas evoluções e tantos e tão variados arabescos.
  Sobre patins. Com essa rapidez que desejaríamos ter, que o nosso pensamento, o nosso coração desejam, e este nosso corpo fatigado não consegue possuir. Sobre patins. Num mundo sem esquinas, sem acidentes, com os espaços oferecendo-se à nossa passagem, e todos nós, cordiais e puros, realizando em sua plenitude o ideograma da nossa vida na clara página da existência. Sobre patins. Com a disciplina fluida de cada instante, de horizonte a horizonte, sem erro, temor nem desfalecimento!"


Cecília Meireles. 
  

domingo, 9 de setembro de 2012

"Portanto, a composição de um estado de espírito plástico não se baseia nas disposições dos gestos de figuras ou na expressão de olhos, de rostos, de atitudes, mas consiste na distribuição rítmica das forças dos objetos, dominadas e guiadas pela própria energia do estado de espírito que compõe a emoção. 
A conclusão disso é, assim, uma visão de arte em que o estado de espírito plástico não é mais a narrativa psicológica de um fato determinado, mas a síntese de uma emotividade ou drama universal de que nós também fazemos parte, como toda a realidade que nos envolve, isto é, do qual faz parte tanto "a dor de um homem" quanto "a de uma lâmpada elétrica, que sofre, e se atormenta, e grita com as mais dilacerantes expressões de cor."

domingo, 12 de agosto de 2012

"That's what always inspired me about every Miyazaki-san film I've seen. It's like, "Wow! This is someone who really loves animation as much as I do." That totally excites me."



John Lasseter talks about Hayao Miyazaki. :)

segunda-feira, 6 de agosto de 2012




Shuu-chan. ♥

terça-feira, 17 de julho de 2012


"Mi niñita chiquitita:
(…)
Estou feliz com a comissão do seu retrato pro Museu de Arte Moderna: será magnífico, você entrando lá pra sua primeira exposição. Será a culminação do seu sucesso em Nova York. Cuspa em suas mãozinhas e crie algo que vai superar tudo que estiver por perto e fazer da Fridita o Grande Dragão [la mera dientona] (…)
Não seja boba; não quero que por minha causa você perca a oportunidade de ir para Paris. ACEITE TUDO QUE A VIDA TE DER, O QUE QUER QUE SEJA, DESDE QUE SEJA INTERESSANTE E TE DÊ ALGUM PRAZER. Quando a pessoa fica velha, ela sabe o que é ter perdido o que lhe foi oferecido quando ela ainda não sabia o suficiente pra aceitar. Se você realmente quer me agradar, saiba que nada pode me dar prazer maior do que saber que você tem as coisas. E você, minha chiquita, merece tudo. 
(…) Não os culpo por gostarem de Frida, porque eu também gosto dela, mais do que qualquer outra coisa. (…)
Tu principal sapo-rana, Diego."

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Eu nunca vou ter palavras para você.
Eu nunca vou ter palavras para a sua solidão.
Eu nunca vou ter palavras para a sua angústia.
Eu nunca vou ter palavras para as suas mãos ansiosas.
Eu nunca vou ter palavras para os seus lindos olhos gritantes que parecem querer me engolir.
Eu nunca vou ter palavras para a sua loucura inquietante.
Eu nunca vou ter palavras para o seu tom de voz calmante e angustiante.
Eu nunca vou ter palavras para a sua expressão quando acaba de acordar.
Eu nunca vou ter palavras para nada. Nada. 

Principalmente para você.

Nunca vou ter palavras que te salvem. Que te levem a uma outra dimensão. Que te traguem de volta para "cá". Que te faça revirar o estômago. Ou que acalme-os. 

Nunca. 

Esta é a única palavra que tenho para você. Para mim. Para nós. Martelando nos meus pensamentos a todo momento, infernalmente.


sábado, 7 de julho de 2012

"Eu tenho vontade de chorar quando você me olha com esses olhos cheios de palavras. Você sempre me diz algo. Com os olhos, com o suspiro, com a sugada do seu nariz. Eu lembro quando ninguém entendia seu grito. Agora todo mundo grita lá fora e você só observa. Em quem você parou de acreditar? Em você ou neles? Seu coração partiu-se junto com a sua voz. Segura sua verdade, meu bem. Ainda que ela não tenha como sair do som da sua garganta. Deixe-a sólida. Você disse alguma coisa? Ah. São seus olhos dizendo de novo. Feche-os."


Bárbara Ariola.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Show

Your

Wound.

sábado, 28 de abril de 2012

Vi teu rosto luminoso
inclinar-se em meu silêncio
Mas disseram ser a Lua,
prismas de estrelas, areia,
marinha fosforescência...

          E tua voz me falava
          em grandes raios profusos.
          Mas diziam ser o vento,
          o outono pelas ramagens,
          o idioma cego dos Búzios...

E andei contigo em minha alma,
como os reis levam coroas,
e as mães carregam seus filhos
e o mar seu movimento
e a floresta seus aromas.

Diziam que era da noite,
da miragem dos desejos...


          Hei de banhar os meus olhos
          nas mil ribeiras da aurora,
          para ver se ainda te vejo.


quinta-feira, 8 de março de 2012

"Realidade

 Qual a profundidade desse rio? Meus pés não encontram o fundo, a angústia aperta, a sanidade falta. O corpo padece. Os braços querem continuar, em braçadas pesadas, continua afundando, inutilmente reage, mas o coração já não responde. Onde encontrar o ar e a alegria? Por onde a verdade andou todo esse tempo, e por onde ela anda, afinal? Por que mergulhei em águas tão escuras, ou fui eu quem fechou os olhos? Fragmentos? Novamente vão me restar fragmentos? Como conseguir emergir? Cada pedaço de mim celebra o fim em um ritual indesejado, cada pequeno pedaço retorce uma ânsia nada antes sentida, repleta de saberes na teoria, mas na prática aproxima-se do amargo e insano mergulho na realidade. Diz-se a margem, mas a margem é a morte de tudo o que acredita. Diz-se frio, mas era pura adaptação ao meio. Diz-se distante, mas quais eram os motivos para voltar? Ser fantoche de mim mesmo, envolto sim em uma armadura cotidiana, familiar e bastante rígida. Qual a profundidade desse rio, fantoche? Não sei, pulei, mas nunca aprendi a nadar."



 Marluci Longarez Fofa.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

"Abro os olhos. Está tudo embaçado. Torno a fechar. Tento me convencer de que não preciso na verdade abri-los, que posso existir perfeitamente, concatenar ideias e palavras (poucas, mas poucas está bom), com olhos fechados para sempre. Mas em frente, tenho de ir em frente, então abro."
    "Começo a ir. Sei perfeitamente para onde vou quando dou um primeiro passo em direção ao escuro total. Ao passar pela placa, não me viro. Vai estar escrito: "saída exclusiva de babacas que não têm quarto no hotel, blusa top, calça baggy nem planos para o futuro". E, em vez de "tá, tá, tá", um "rá, rá, rá" galhofeiro.
     Apresso o passo. Mergulho no breu com confiança de cego.
    É uma questão de treino.




Shirley Marlone mergulha na escuridão de uma praia deserta. Às suas costas, deixa um hotel cinco estrelas e os programas com turistas ricos. À sua frente, só existe a necessidade de inventar um novo dia. Não é a primeira vez. Não será a última. Mas desta vez há uma pessoa a quem ela não precisará dizer nada. É isso que busca, o silêncio, a desimportância de um cotidiano banal. Nada mais difícil."

domingo, 5 de fevereiro de 2012

"under unnatural circumstances
i forget about your vain pretenses
but if you want to recreate the sea, another sky for me,
i got you."

terça-feira, 24 de janeiro de 2012


"Tudo é pequeno
A fama
A lama
O lince hipnotizando a iguana
O que é grande
É a arte
Há vida em Marte."

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

"- O que, então, espera de mim? - acabou perguntando.
- Na verdade, ignoro. Um milagre, talvez.
- Qual?
- Não sei. Tudo que sei é que sofro, ao mesmo tempo, de falta e de um certo transbordamento. De um excessivamente cheio e um excessivamente vazio."

domingo, 8 de janeiro de 2012

"Uma obra de arte, anotou Paul Valéry, deveria nos dizer que não vimos o que estamos vendo. Vimos ou não vimos? Vimos e não vimos. Estamos vendo. A obra de arte nos retira de um tempo e nos reinstala em outro. Um tempo à parte, um lugar à parte. A arte não está em lugar algum, a não ser no próprio lugar da arte. Mas, por natureza, a arte é sempre um outro lugar: quando se põe o pé onde ela está, quando ela termina de pôr o pé onde ela mesma está, já está em outro lugar. Em lugar algum, em nenhuma parte.
Arte e utopia são conceitos imbricados. Expressões - cada uma é mais do que uma palavra - quase sinônimas. Quase porque falar de uma não é falar de outra automaticamente. A arte de algum modo sempre implica uma utopia, mas a utopia nem sempre implica a arte. O que move a arte é o princípio da utopia. O que move a utopia não é o desejo da arte. A arte é um outro lugar. A utopia quer um outro lugar. São dois lugares que não têm as mesmas coordenadas no espaço cultural. A arte se abre para a utopia, a utopia costuma fechar-se para a arte. É um jogo de atração e repulsão: se a arte realizar sua utopia, a utopia talvez não precise mais da arte. Pelo menos, é o que pensa a a utopia. Por isso, a utopia - o não-lugar - é sempre de sua própria parte, enquanto a arte não é de nenhuma parte. Nessa tensão, os sonhos de uma são povoados, às vezes assombrados, pelos traços e vultos da outra.
Com o que sonha a arte, o que quer a arte da utopia, o que a utopia quer da arte, com o que sonha a sociedade quando sonha com a arte, para onde olha a arte, o que vêem seus olhos? "O olho não pode ver-se a si mesmo (...), o olho vê-se no avesso do olho (...), silêncio: olho do furacão."

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

"(...) Afinal, eu também sou o escuro da noite. Eu também sou o que sobra em casa depois que todo mundo saiu e o que sobra na cidade depois que todo mundo foi dormir. Eu também sou isso, o silêncio que existe de dentro para fora, como algo que se alastra, que transforma até o ruído externo numa coisa sem sentido. Eu também sou eu apenas, eu só. E mais nada nem ninguém, mesmo na esquina mais movimentada da maior cidade do mundo. Também sou o último passageiro do ônibus e a voz que ninguém ouviu."

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

domingo, 1 de janeiro de 2012

“Society mostly categorized [graffiti] art as vandalism, so my struggle as an artist was to show its beauty to those who could not see it,” he says, noting that, historically, the feedback wasn’t entirely positive: “The more people told me it was trash, the more I wanted to do it.” José Parlá


"Shot True"